domingo, 24 de janeiro de 2010

Um novo rumo

.
A recém-instituída capital do Ceará chega ao século XIX com uma população de poucas centenas de habitantes. Este é o ponto de inflexão no desenvolvimento de Fortaleza. O aumento da atividade comercial, inclusive direto com a Europa, levou à melhoria da estrutura administrativa da vila, principalmente com a criação, em 1812, da Alfândega de Fortaleza.

Para o inglês Henry Koster, que visitou a vila em 1810, Fortaleza tinha como problema central a sua construção em terreno arenoso e a ausência de rio e cais, além de suas praias terem vagas violentas, tornando o desembarque difícil. Outras dificuldades eram a ausência de transporte e porto, além do pesadelo das secas. Destacava que as residências só possuíam o pavimento térreo e as ruas e praças não eram calçadas. O visitante também ressaltava a existência do Palácio Governamental e da Câmara, a Tesouraria, além de pequenas edificações públicas como a Alfândega e três igrejas. A vila de Fortaleza tinha apenas 1.200 habitantes, quatro ruas centrais e um comércio precário.


A "Planta do Porto e Villa da Fortaleza" (figura abaixo), elaborada em 1813 pelo português de descendência francesa, Antônio José da Silva Paulet, mostra um novo arruamento na cidade, cuja orientação, em retângulo, representava um projeto para as mudanças que seriam adotadas e para a nova cidade que se pretendia construir nas próximas décadas. Com as ruas da cidade numa disposição em forma de xadrêz, cortando-se em ângulos de 90 graus, o plano de Silva Paulet seria o balizador da expansão futura de Fortaleza. Contudo, a realidade do desenho urbano da pequena Fortaleza, nas duas primeiras décadas do século XIX, ainda era muito precária e pode ser observada nos detalhes da "Planta da Villa da Fortaleza e seu Porto" que ele apresentaria em 1818 (ver mapa acima).


Segundo o historiador Raimundo Girão, o engenheiro Silva Paulet com “o seu plano, a um só tempo de remodelação e ampliação, tirou, providencialmente, da desordem para uma orientação lógica a pequena capital, exatamente na fase de ressurgimento que ela ensaiava”... “Corrigindo na sua planta, quando possível, os erros existentes, o esclarecido engenheiro desprezou o sentido velho do crescimento da vila e, de modo resoluto, puxou-o para o estilo quadrangular, que a tanto se prestava a natureza relativamente plana do terreno.”.

Em 17 de março de 1823, Fortaleza é elevada pelo Imperador D. Pedro I à condição de cidade, mais precisamente sob a denominação de Cidade da Fortaleza de Nova Bragança. Esse topônimo pouco durou e logo a cidade reassumiu seu nome anterior, ou seja, Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Nas décadas seguintes, continuou convivendo com problemas como a inexistência de um cais, dificuldades de desembarque, o areal incômodo, condições sanitárias precárias e surtos epidêmicos.

Os confederados

Em 1823, as ideias republicanas dominavam o nordeste e se acentuaram em face das ameaças do Imperador que, com a Constituição outorgada em 1824, impôs ao país um estado unitário. Pernambuco não aceitou essa Constituição e em 2 de julho de 1824 proclamou a Confederação do Equador (movimento republicano e separatista que uniu Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte). O objetivo era formar um novo estado separado do Império, cujas bases eram um governo representativo e republicano, garantindo a autonomia das províncias confederadas.

Mas a repressão ao movimento, preparada no Rio de Janeiro, enviou várias tropas ao Nordeste e, em setembro de 1824, dominaram Recife e Olinda (principais centros de resistência), e dois meses depois foi a vez do Ceará.

As penas impostas aos revoltosos foram severas e D. Pedro não atendeu aos pedidos para que elas fossem mudadas. Os principais líderes, entre eles Padre Mororó, Francisco Ibiapina, Feliciano Carapinima, Azevedo Bolão e Pessoa Anta, foram executados em fuzilamentos precedidos por cortejos que saíam da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção e seguiam pela rua Conde D’Eu, Igreja do Rosário, Praça do Ferreira, rua Floriano Peixoto, encerrando no então Campo da Pólvora, hoje Passeio Público.

Nenhum comentário:

Postar um comentário