segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Algum progresso

.
A expansão da cultura do algodão produzido no Ceará em função da demanda externa, foi o fator gerador de um surto de crescimento econômico no Estado que, a essa altura, já contava com uma população numerosa e se debatia com o problema das secas. O porto de Fortaleza exportava o produto para a Inglaterra, e daí em diante a cidade passou a exercer de fato seu papel de capital e sede do poder. Essa condição se intensifica com a implantação das ferrovias, que estabeleceram o fluxo de escoamento da produção agrícola e pastoril do interior até o porto de escoamento na capital. Além disso, a centralização político-administrativa ocorrida principalmente a partir do Segundo Reinado (1840-1889) contribuiu para que Fortaleza assumisse uma posição de maior importância em relação ao interior cearense.

Na observação do jornalista e pesquisador Paulo Linhares, "é a partir do segundo reinado, quando os presidentes de províncias passam a ser verdadeiros agentes do poder central, que melhoram os indicadores econômicos da cidade em relação a Aracati e começamos a sentir uma cidade nova na sua repartição dos homens no espaço, nos seus deslocamentos, na construção e distribuição de seus edifícios públicos e no estabelecimentos de espaços e vias. Estas mudanças estavam, com maior ou menor rigor, ligadas a uma necessidade de racionalização das ações econômicas e à submissão dos cidadãos a certas obrigações sociais, graças às quais uma ordem social se impõe.".

Todos esses fatores econômicos foram responsáveis pelo surgimento de uma elite de perfil cosmopolita, que começava a exigir e, ao mesmo tempo, criar novos padrões culturais no seio da, até então, tímida Fortaleza.

Primeira planta fidedigna da cidade, elaborada por Adolfo Herbster em 1859

Seria o carioca de Niterói, Antonio Rodrigues Ferreira, radicado em Fortaleza a partir de 1825, que daria prosseguimento a implantação do traçado em xadrez, dirigindo a expansão da cidade para o lado Sul, Praça da Sé ou Largo da Matriz e Praça do Ferreira. Como presidente da Câmara de Fortaleza, Ferreira obedeceu tenazmente, o projeto do Engenheiro Silva Paulet quanto a expansão urbana regular de Fortaleza, modelo de fácil adaptação em função da topografia plana da região. Contratou como seu auxiliar o arquiteto Adolfo Herbster, para dá continuidade ao direcionamento da moderna malha urbana. O disciplinamento da expansão da cidade foi fielmente obedecido, proibindo-se a abertura de becos estreitos e/ou em deflexões.

Foi a partir desse momento que a “Feira Nova”, antiga denominação da Praça do Ferreira, assumiu lugar de destaque no cenário urbano de Fortaleza. Na avaliação do memorialista Mozart Soriano Aderaldo, o logradouro passaria, com Ferreira, por “um acelerado desenvolvimento, o que ensejou fosse o centro da cidade deslocado da Praça da Sé para a futura Praça do Ferreira, nome que muito justamente tomou depois de ter sido Praça Municipal e Praça Pedro II. Ali promovia ele o “entrudo”, o carnaval daqueles recuados anos, e imaginava mil e um pretextos a fim de chamar a atenção de todos para o seu logradouro, porque mister se faz relembrar que a ‘Feira Nova’ se localizava, naquele tempo, em mero arrabalde da capital cearense.”.

Entre os anos de 1846 e 1877 a cidade passa por um período de notável enriquecimento e melhoria das condições urbanísticas e a execução de diversas obras, tais como a criação do Liceu do Ceará e o Farol do Mucuripe em 1845, Santa Casa de Misericórdia em 1861, Seminário da Prainha em 1864, Biblioteca Pública em 1867 e a Cadeia Pública em 1870. Alguns anos depois teve início a construção da Estrada de Ferro de Baturité. Somente em 1848, quando Fortaleza tinha por volta de 5.000 habitantes, foi instalada a iluminação pública, a azeite de peixe, e somente em 1867 a cidade passou a contar com uma iluminação pública a hidrogênio carbonado.

Retrato da cidade

O mais importante registro do que era Fortaleza nesse período foi feito pelo engenheiro pernambucano Adolfo Herbster em sua “Planta Exacta da Capital do Ceará”, de 1859, a pedido do Governador Sampaio. Segundo Raimundo Girão, “evidencia-se, por esse exame, que o conjunto urbano não pudera vencer as areias que o cercavam. O núcleo edificado, para oeste, não ia além da atual Rua Senador Pompeu... Para o sul morriam as ruas, já bastante rarefeitas, na atual Pedro Pereira. Distante, na Praça Clóvis Beviláqua dos dias atuais, achava-se o matadouro. Somente através de caminhada suarenta, era possível chegar à Lagoa do Garrote, que um dia se havia de transformar no Parque da Liberdade (Cidade da Criança). Ao lado direito do Parque, nenhum progresso apreciável.”.

Levantamento realizado, nessa mesma época, pelo Senador Pompeu e publicado em 1863 dava conta que “a população da cidade, inclusive os subúrbios, ocupados por palhoças, seria de 16 mil habitantes. Apenas 960 casas de tijolo e telha, ocupando unicamente oito ruas ‘muito direitas, espaçosas e calçadas’. Mas oito já eram as suas praças.”.

Em 1866, o suíço Louis Agassiz, autor de A journey in Brazil, escreveu suas impressões sobre Fortaleza: "gostei do aspecto da cidade do Ceará. Agradaram-me as ruas largas, limpas, bem calçadas, ostentando toda sorte de cores, pois as casas que as ladeiam são pintadas dos mais ousados tons. Aos domingos e dias de festas, todas as sacadas se enchem de alegres toilettes e grupos masculinos enchem as calçadas, conversando e fumando. Ceará não tem esse ar triste e sonolento de muitas cidades brasileiras. Sente-se, aqui, movimento, vida e prosperidade".

Mapa elaborado pelo doutor Pedro Theberge em 1861, no qual, pela primeira vez, aparece a denominação de "Fortaleza" para identificar a capital cearense

O progresso de Fortaleza tornou-se mais dinâmico a partir de 1866, com a abertura de uma linha de navios diretamente para a capital do Império, ao mesmo tempo em que ocorriam melhorias das vias de comunicação com o interior do Estado. Fator fundamental foi a implantação da estrada de ferro que, partindo de Fortaleza, atingia Sobral em 1882, Quixadá em 1891, Iguatu em 1910, Crateús em 1912 e o Crato em 1926, deixando a maior parte do sertão sob influencia da capital. Assim, a ampliação da função comercial de fortaleza nessa época deve-se à expansão da cultura do algodão, nas serras e no sertão, e à implantação do sistema ferrviário.

Um comentário: