terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A incipiente modernização

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Fortaleza começava, timidamente, a assumir um semblante de cidade moderna. A tentativa de disciplinamento do espaço urbano já projetava, a essa altura, a expansão da capital cearense para muito além da área efetivamente construída. Por outro lado, no novo modelo de arruamento, começavam a se multiplicar os sobrados com dois andares e surgir os primeiros de três pavimentos, desmentindo a crença de que o terreno de Fortaleza não suportava edificações que não fossem térreas.

Em 1875, Adolfo Herbster elaborou a Planta Topográfica da Cidade de Fortaleza e Subúrbios, considerada o marco inicial da modernização urbana da capital cearense. Inspirado nas realizações da prefeitura de Paris, então gerida pelo Barão de Haussmann, Herbster dotou a cidade de três bulevares, nas atuais avenidas Imperador, Duque de Caxias e D. Manoel, e consolidou o alinhamento de ruas segundo o traçado em xadrez, ampliando-o muito além da área construída, de forma a disciplinar a expansão da cidade e a facilitar o fluxo de pessoas e produtos.

A última contribuição de Adolfo Herbster, já aposentado, para o planejamento urbano cearense data de 1888, com a "Planta da Cidade de Fortaleza Capital da Provincia do Ceará" (ver acima), impressa em París, na qual reafirma a concepção topográfica da planta de 1875.

Em 1877, tem início a chamada Grande Seca de 1877-1879, um dos mais severos períodos de seca prolongada da história cearense, levando à morte milhares de pessoas e acarretando a migração maciça de retirantes. Fortaleza recebeu uma população de fugitivos da seca quatro vezes maior que a sua própria.

Flagelados da seca que atingiu o Ceará nos anos 1877 e 1878

A partir de 1880, a cidade ganhou novos serviços e equipamentos urbanos, como o transporte coletivo por meio de bondes com tração animal (conhecidos como bondes de burros), o serviço telefônico, caixas postais, o cabo submarino para a Europa, a construção do primeiro pavimento do Passeio Público e a instalação da primeira fábrica de tecidos e fiação. Em paralelo, surgiram os primeiros jornais e instituições educacionais e culturais.

Apesar do visível crescimento, a cidade ainda não possuía um porto para exportar produtos como algodão e café. Isto impulsionou muitos estudos e projetos. O mais conhecido é de Charles Neate, datado de 1870, o qual incluía a construção de um quebra-mar, um canal, um porto, uma ponte de acesso ao litoral.

Planta de 1870 elaborada por Charles Neate para o projeto do Porto do Ceará

Em 1883, a empresa inglesa "Ceara Harbour Corporation Limited" iniciou as construções da futura estrutura portuária de Fortaleza. Neles também estava incluído o prédio da Alfândega. Porém a construção do quebra-mar iniciou-se somente em 1887, devido às grandes dificuldades para obtenção da pedra necessária às obras e acumulo de areia causada pela ação dos ventos, na bacia abrigada pelo quebra-mar.

Em 1897, essas obras foram suspensas, quando o quebra-mar já alcançava 432 metros. Devido ao fracasso do projeto, as condições de serviço de embarque e desembarque no antigo porto tornaram-se intoleráveis para os viajantes e para o comércio.


O trem

Naqueles tempos nenhuma cidade podia considerar-se moderna sem ser entrecortada por uma ou mais linhas de trem. Com Fortaleza não foi diferente, mesmo porque o acesso da cidade à crescente produção do interior do Estado tornava urgente a implantação de um moderno sistema de transporte, principalmente de carga. Fortaleza presenciou a chegada do primeiro trem com entusiasmo e excitação. Quem conta é Raimundo Menezes:

"No dia 3 de agosto de 1873, cerca de 8.000 fortalezenses - a quase totalidade da população da capital cearense de então! - vieram, meio assombrados, assistir, na rua do Trilho de Ferro, hoje Tristão Gonçalves, à passagem barulhenta do primeiro trem que andou espantando todo mundo, na via pública, com o seu apitar estridente e esquisito. Naquela tarde, dava-se a experiência da locomotiva "Fortaleza". Diante da multidão basbaque, o pequenino trem, com um êxito surpreendente, rodou, cinco vezes, seguidamente, sob os mais entusiásticos aplausos, entre a estação Central, localizada no antigo Campo d'Amélia, atual praça Castro Carreira".

Movimento na Estação Central no final do século XIX

A Estação de Fortaleza da Estrada de Ferro de Baturité (Estação João Felipe) foi projetada e construída com planta do engenheiro Henrique Foglare, no local do antigo cemitério de São Casemiro praticamente com mão de obra dos retirantes da seca de 1877. A obra teve sua pedra fundamental lançada em 30 de novembro de 1873, mas somente foi iniciada em 1879, sendo, assim, inaugurada em 9 de junho de 1880, em frente ao antigo "Campo da Amélia", atual Prala da Estação.

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