terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Os intensos anos 20

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A Fortaleza dos anos 20 progredia a passos largos. De acordo com censo de 1920, sua população é de 78.000 habitantes. As ruas ainda eram iluminadas com gás carbônico, mas as casas já tinham energia elétrica. Desde 1913, o transporte na cidade era feito por bondes elétricos, que substituíram os bondes puxados a burros. O serviço era administrado por uma empresa canadense. Em 1926 começou a ser instalada a água encanada.

Postal colorizado dos anos 20, na qual o observador, situado num canto da Praça do Ferreira, está olhando para a Rua Guilherme Rocha no sentido da Praça José de Alencar

As indústrias floresciam. Fábrica de tecidos progresso, Fábrica Siqueira Gurgel de óleo e sabão, cigarros, calçados, curtumes, bebidas. Mas a cidade já demandava um porto de maior envergadura para carga e descarga de mercadorias.

No comentário de Raimundo Girão, “as obras federais, contratadas com o objetivo de resolver o problema das secas, em 1920, atraíram para Fortaleza um clima de novidades, de feição algo pinturesca. Viu-se, duma hora para outra, a gente prata-de-casa em mistura com dolicocéfalos louros e pretos barbadianos, americanos, ingleses que, arrotando fama de técnicos, vinham fracassar nos serviços de construção do porto do Mucuripe”.

Vista Panorâmica de Fortaleza no final dos anos 20, na qual vemos, em destaque, a Praça Marquês de Herval, hoje Praça José de Alencar

A praça Marquês de Herval (José de Alencar) começava a rivalizar com a Praça do Ferreira em importância, em virtude dos novos pontos comerciais que ali se instalaram. Em seu favor, a Marquês de Herval contava ainda com o Theatro José de Alencar, a Escola Aprendizes Artífices, a Igreja do Patrocínio e a movimentada Fênix Caixeiral. Em 1º de maio de 1929 foi erguida no centro da praça uma estátua de José de Alencar, cujo centenário de nascimento ocorria naquela data. Anos depois o nome Marquês do Herval foi definitivamente substituído e a praça passou a adotar o nome do grande escritor cearense.

O comércio se desenvolvia bem mais que a indústria. Só o algodão, durante a safra, movimentava uma imensidão de comboieiros, freteiros, lojistas e donos de mercadorias que fervilhavam pelas ruas da cidade. As trocas comerciais eram sempre feitas com as cidades do interior. Além de Aracati, Icó e Sobral, agora se destacavam as cidades de Baturité, Quixadá e Juazeiro do Norte. Os caixeiros (como eram chamados os funcionários do comércio da época) tinham uma organização sólida e poderosa chamada Fênix Caixeiral.

Cruzamento das ruas Barão do Rio Branco e Guilherme Rocha, com a Praça do Ferreira e o Palacete Ceará ao fundo. (Registro de 1925 clolorizado à mão)

Os governantes e a elite local continuavam com a mesma mentalidade artificialmente afrancesada. Começava que muitas casas comerciais eram administradas por estrangeiros franceses como a famosa casa Boris Frères, filial da casa francesa de mesmo nome. Tinha também Benoit Levy & Dreyfuss, Levy Fréres, Reishofer Frère, Clement Levy e Felix Liabastres, todas eram casas de comércio de propriedade de franceses. Até as reformas na cidade e os prédios públicos ainda inspiravam-se nos franceses. O Mercado de Ferro, tido como o mais belo e confortável da América do sul, foi projetado e construído na França.

A Praça do Ferreira estava sendo reformada, ganharia uma nova iluminação à luz elétrica. A Praça Marquês do Herval (atual José de Alencar), toda ajardinada e enfeitada com colunas de mármore vindas de Portugal, mas ao gosto francês, era passeio obrigatório para grande número de famílias e as suas crianças.

Rua Major Facundo em 1928, com ângulo de visão na direção do Passeio Público

É nesse período que Fortaleza começa a se expandir rumo ao leste, para a Aldeota e para o Meireles. Na Aldeota começam a surgir residências grandes, modernas e em lotes maiores que abrigavam as famílias mais abastadas. No início, a Aldeota acompanhava a Avenida Santos Dumont e estendia-se até onde hoje fica a Avenida Barão de Studart - ponto onde final da linha do bonde. No Meireles é que seriam erguidas mais tarde as sedes dos clubes sociais da alta sociedade, como o Náutico, o Clube Ideal, Clube dos Diários, entre outros.

Agora, disponibilizamos um vídeo realmente raro, retratando cenas da Fortaleza dos anos 20. É possível que a fita original fosse bem mais longa e apresentasse várias outras cenas urbanas de época. Além disso, na tentativa de recuperar o material já bastante danificado, o filme teve ainda vários metros perdidos definitivamente, durante o processo de cópia na velocidade adequada para receber gravação sonora. É obvio que a qualidade deixa muito a desejar, mas vale a pena conferir.


O filme foi produzido durante as festividades comemorativas do sesquicentenário de Fortaleza e fazia parte da filmoteca do produtor cearense Paulo Sales, que o havia adquirido no Rio de Janeiro.

A Praça

A Praça do Ferreira é a mais conhecida e frequentada da cidade, sendo considerada por muitos como o coração de Fortaleza. A praça também foi palco de importantes episódios da história da cidade. Por mais de um século, seus bares, cinemas, os antigos cafés ou seus bancos foram ponto de encontro do povo cearense. Por ela passaram os mais ilustres personagens da história de Fortaleza, como Quintino Cunha, o próprio Boticário Ferreira, os membros da Padaria Espiritual, entre muitos outros.

Praça do Ferreira em 1920, onde podemos ver, ao fundo, o prédio do Cine Majestic

A Praça do Ferreira é rodeada ainda hoje, por várias construções que marcaram época em Fortaleza, como o Palacete Ceará, a Farmácia Oswaldo Cruz, a lanchonete Leão do Sul, o Cine São Luiz, o Edifício Sudamérica, e os hotéis Savanah e Excelsior Hotel (primeiro grande hotel de Fortaleza, construído onde ficava o famoso Café Riche).

Até meados do século XIX, a Praça do Ferreira era só um areial. Um areial com um cacimbão no centro, algumas mongubeiras, pés de castanhola. Nos cantos do terreno, marcos de pedra para amarrar jumentos dos cargueiros ambulantes que vinham do interior. Nesse tempo, o areial era chamado de "Feira Nova" por abrigar uma feira movimentada.

Lado noroeste da Praça, onde vemos a esquina da Rua Guilherme Rocha com Major Facundo. O sobrado de cor amarelado situado na esquina, foi a primeira construção de três pavimentos de Fortaleza, ficando onde posteriormente seria construído o Excelsior Hotel. (Cartão colorizado de 1925)

Em 1842, a Praça, então denominada de Dom Pedro II, foi construída por Antônio Rodrigues Ferreira (Boticário Ferreira), então presidente da Câmara. Ele instalou uma botica na Rua da Palma, hoje Rua Major Facundo. Sua botica, conhecida "Botica do Ferreira", ficou bastante conhecida, chegando a ser ponto de referencia e ponto de encontro na praça. O Ferreira e sua botica tornaram-se tão célebres, que por volta de 1871, a praça passou a ser chamada de "Praça do Ferreira".

Em 1886, quando a praça ainda era um areial com um cacimbão no meio, foi construído o primeiro café-quiosque da praça: Café Java. Depois chegara os outros três: Iracema, Café do Comércio e Café Elegante - um em cada canto da Praça. Um quinto quiosque servia de posto de fiscalização da companhia de luz.

No centro do passeio foi colocado um catavento sobre a cacimba gradeada, com uma imensa caixa d’água pintada de roxo. O centro onde ficava o jardim era cercado por grades de ferro. Havia 4 fileiras de bancos de taliscas verdes.

Praça do Ferreira em registro de 1930, com visão para o Palacete Ceará, que resiste até os dias de hoje

Em 1902, o intendente Guilherme Rocha mandou fechar o cacimbão e em seu lugar, fez um jardim, o "Jardim 7 de Setembro". Em 1920 o prefeito Godofredo Maciel ladrilhou o areial, demoliu os quatro cafés, e derrubou o famoso "Cajueiro da Potoca" - onde se fazia anualmente a eleição do maior mentiroso de Fortaleza. O mesmo Godofredo Maciel, em 1925 construiu um coreto no centro da praça.

3 comentários:

  1. Fantástico trabalho de reconstrução da história de nossa Capital. Parabéns e continue com esse maravilhoso empreendimento... Jeovah C. L. Pereira

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  2. Anos 20
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